23 de fev. de 2018

1922 - CONTO E FILME


Em 2017 tivemos várias adaptações de obras do mestre Stephen King, algumas acabaram sendo excelentes, como It – A Coisa, e outras acabaram sendo uma decepção, como A Torre Negra. No meio de tantas, tivemos 1922, baseado em um conto de 148 páginas do mesmo nome, presente na coletânea Escuridão Total Sem Estrelas, o filme foi lançado pela Netflix, assim como outras adaptações do mestre, como Jogo Perigoso e a série já cancelada O Nevoeiro.

1922, se passa no ano que dá título à história no estado americano do Nebraska e conta a história do fazendeiro Wilfred James. Após a esposa de Wilfred, Arlette, decidir vender as terras herdadas de seu pai para uma grande companhia, o homem decide persuadir seu próprio filho a ajuda-lo a matar sua esposa. Mas acaba enfrentando sérias consequências pelos seus atos.


Conto:
Existem pessoas que não gostam de ler contos, por acharem que o fato de serem curtos prejudica na imersão e desenvolvimento da leitura. 1922 é a prova de que isso não é verdade. Wilfred é um personagem fascinante e à cada novo acontecimento, nos vemos mais curioso sobre como a história irá acabar. A escrita de King é bem detalhada e imersiva, apesar de mais lenta. O conto é narrado em primeira pessoa, como a confissão de Wilfred, mas acaba nos fazendo sentir cumplices do crime.

Durante a leitura, são levantadas diversas questões. Entramos na cabeça de um homem simples que se torna um monstro e vemos sua visão sobre a época e os acontecimentos. À partir de certo ponto nos vemos duvidando se os acontecimentos contidos nas páginas do conto são sobrenaturais ou apenas delírios de um homem perdendo a sanidade, e King é esperto o suficiente para não nos dar a resposta e deixar que tiremos nossas próprias conclusões. Apesar de essa questão permanecer em aberto, o final é completamente fechado.
Temos aqui um exemplo de que Stephen King consegue ser brilhante tanto em 1000 páginas quanto em 150 páginas.


Filme:
Quem me conhece sabe o quanto sou fã do autor, e os fãs sempre tendem a ficar com o pé atrás para as adaptações. Importante dizer que o filme não mata o conto, ambos merecem ser vistos como obras separadas e analisados assim também.

O filme é uma adaptação bem fiel do conto, deixando de lado algumas coisas em prol do ritmo da narrativa, afinal se trata de outra mídia. Wilfred James em tela é tão fascinante quanto Wilfred James em texto. Isso se dá por uma ótima atuação de Thomas Jane, que já havia trabalhado em outras adaptações de obras do mestre. Porém, o restante dos personagens acaba sendo raso, o que não estraga o longa, mas causa um estranhamento naqueles que podem ser familiarizados com a obra original.

Os maiores pontos negativos do filme se encontram em seu primeiro ato. Um tanto apressado e costurado por uma narração muitas vezes desnecessária, não sentimos tanta força assim na história e a decisão de matar Arlette parece bem forçada pelo roteiro.

O ritmo do filme acaba se equilibrando a partir do segundo ato, quando vamos conhecendo mais as motivações de Wilfred e entendendo mais seu personagem e o amor que ele sente pelas suas terras e pelo seu filho, o que acaba explicando suas atitudes. Quanto ao final, o roteiro acaba enfraquecendo o desfecho da história, enquanto no conto permanece a dúvida de que os eventos que o personagem presencia são sobrenaturais ou apenas alucinações, o filme decide tomar partido nisso e decide pelo espectador. Essa decisão acaba tirando a graça do enredo.
Agora se o filme é bom ou ruim.

Vivemos em um tempo de grande extremismo, hoje em dia as pessoas classificam os filmes em péssimo ou excelente, sem meio termo.

1922 é bom, apenas bom. Mas as vezes bom é o suficiente.


Por: Rennan Gardini

7 comentários:

  1. Ei, Rennan! Tudo bem?

    Nossa, adorei conhecer seu ponto de vista. Você escreveu super bem e soube colocar os pontos negativos e positivos do filme, e me mostrou um pouco sobre esse conto. Eu não leio muito SK, mas eu gostaria de embarcar mais nesse mestre. Gostei muito do conto e fiquei curiosa com o final. Cheguei a conclusão que lerei o conto e mais pra frente tento dar uma chance ao filme.

    Beijos!
    http://www.as365coresdouniverso.com.br/

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  2. Fiquei bem animada pra assistir! Gosto muito dessas comparações com a obra, acredito que ambas podem ser boas mesmo com pequenas diferenças, grande jamais hahaha.
    E leio contos sempre que posso, amo a rapidez com que nos conquistam, quando bem escritos valem um livro sim!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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    1. Olá, contos são formas maravilhosas de se contar uma história. Ainda mais quando vêm das mãos de um escritor maravilhoso como Stephen King. Só este conto já valia o livro, mas os outros três também são excelentes. Obrigado pelo comentário!

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  3. Oi Rennan tudo bem?
    Eu gosto de mais dos seus posts e leria esse conto sem problemas. Realmente, quando a gente gosta muito de determinado autor ou livro as adaptações parecerem meio xulas.
    Quanto a obra em si me encanta como King aborda de verdade o cerne de cada personagem. Fico feliz da obra ter sido fiel. As vezes bom é suficiente.
    Beijos.
    Blog: fanficcao.wordpress.com

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  4. Ola, Jéssica. Fico muito feliz que goste dos meus posts. King nunca decepciona quando o assunto e desenvolvimento de personagens. Espero que você goste do conto como eu gostei. Abraços!

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  5. Olá, tudo bom?
    Gostei muito da sua resenha, e sinceridade. As vezes bom é uma nota ótima, mas as pessoas só querem assistir filmes "excelente" hehehe.
    Desde que a netflix lançou esse filme, quero muito ler o conto (já que quero assistir o filme). Gostei de saber um pouco mais da história...
    Contos apesar de curtos, muitas vezes são bem trabalhados (apesar que 1922 é uma novela HAHAH) mesmo tendo suas 30/50 páginas.

    Beijos, Ally.
    Amor Literário

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  6. Oi Rennan,
    Acho engraçado quando as pessoas falam em não ler um conto porque não há imersão, não sabem elas o quanto elas estão enganadas, deveriam ler Poe, Lovecraft , King e muitos autores que apresentam uma narrativa impecável e muito bem construída.

    Eu vi esse filme e também achei apenas bom, não li essa do King, mas futuramente pretendo ler mesmo que a história do filme não tenha me cativado. Um que amei e que já me falaram que é diferente do livro é "Jogo Perigoso" também disponível na Netflix e me avisaram que se eu amei o filme vou simplesmente adorar o livro (não duvido) <3

    Adorei saber sua opinião, talvez quando ler a história ela me conquiste mais, até porque a narrativa do King é espetacular :)

    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/

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 renata massa